Na clínica, frequentemente recebemos sujeitos enroscados em seus laços.
Aqui, falo dos laços amorosos.
Não é difícil que haja um descompasso nesse encontro de um com o outro. Escuto muitos enroscos na clínica a partir desse encontro dos pacientes com um par romântico. Enroscos esses que às vezes são risíveis, cômicos. Às vezes são trágicos, dramáticos.
Às vezes, a pessoa do “eu não sei lidar com o outro demandando algo de mim” encontra a pessoa do “posso te pedir mais uma coisa?”. Às vezes, a pessoa do “eu quero pedir” encontra a pessoa do “mas eu também quero pedir!”. Às vezes, a pessoa do “eu não sei lidar com o outro demandando algo de mim” encontra a pessoa do “mas eu também não sei lidar!”. Às vezes, a pessoa do “quero te oferecer tudo que você deseja de mim!” encontra a pessoa do “mas eu quero que você seja você e não o que te peço!”. Às vezes, a pessoa do “eu sou muito bom nisso, você consegue ver isso?” encontra a pessoa do “estou insatisfeita, você pode ser bom em outra coisa?”. Às vezes a pessoa do “eu preciso estar sempre junto!” encontra a pessoa do “mas eu preciso do meu espaço!”.
Na análise, é possível dizer: “eu quero pedir e quero que recuse meu pedido!” e nós, analistas, entendemos para onde isso aponta, apesar de ser incompreensível no senso comum. Trabalhamos com esses descompassos. Analisamos a posição do sujeito em que é possível querer duas coisas contraditórias. A clínica é cheia de paradoxos.
O laço vira nó quando, diante desse descompasso, toca em lugares mais profundos de cada um, acentuando a impossibilidade de seguir junto. O que significa pedir e o outro não poder dar? O que significa não saber lidar com o que demandam de mim? O que significa receber algo do outro? O que significa poder oferecer algo ao outro? São muitas direções possíveis para se pensar a partir desses descompassos.
O trabalho terapêutico e analítico é sobre desatar esses nós.