Maternidade e relação mãe-filha

Li o livro “A filha perdida” de Elana Ferrante em 2020, quando mergulhava em estudar sobre a relação mãe-filha com as autoras Malvine Zalcberg e Ana Suy, e também intensificava a questão em minha análise pessoal. Assistir o filme foi acender novamente a lanterna e sair do modo férias para voltar para a ativa dos estudos.

A filha perdida é um filme sobre maternidade. Uma maternidade com o combo completo, sem eufemismos. Com direito a culpa, loucura, conflitos internos, repulsa, raiva, agressividade. Amor no meio disso tudo? Seria possível? Um amor que às vezes pede uns passinhos para trás. Pede separação.

O filme mostra (entre tantas outras coisas) uma mãe que vê na distância física, uma forma de continuar, sendo mãe, sendo mulher. Há muitas saídas possíveis para uma maternidade. Para Leda, essa foi a mais viável.

É uma ingenuidade a gente pensar que existem formas corretas de maternar, de ser mãe. Cada uma, com o seu saber inconsciente, trilha de um jeito.

Não tem instinto, puericultura muda a cada contexto histórico, manuais se alteram com frequência.

No entanto, há um saber inconsciente que dá o traço na assinatura da maternidade para cada relação, que dá sustentação ao que está sendo feito. Esse precisa ser restituído, autorizado. Esse precisa ser criado, elaborado. Esse, passa pela nossa história, pela forma como aprendemos a amar, a sermos cuidados. Esse saber carrega nomes, carrega marcas. Esse saber não é anônimo, carrega quem nos fez, quem somos – talvez por isso que se apropriar dele tenha efeitos de saúde mental e torne um pouco menos dolorido as travessias que a maternidade exige.

Arte: Julia Panadés